Detesto estar aqui sozinha. Esta casa só convosco tem sentido; contigo, que me apontas o futuro, e contigo, que o traças ao meu lado, a tua mão a apertar a minha. De resto, esta casa é um monte de passados. Dos meus anos de casamento falhado. Dos tempos da minha filha pequenina. Sobretudo, com a vinda para cá de tantas coisas que estavam na casa dos meus pais, do passado de pais e avós já desaparecidos e que tanta falta me fazem, que me deixaram montes de livros, de roupas, de objectos de toda a espécie que me contam histórias de que queria saber mais; ou de que sei tanto que o coração se me aperta ao recordá-las.
Por isso, esta é uma casa povoada de fantasmas. Não gosto, nada, de aqui estar sozinha. Não por ter medo dos fantasmas, mas porque o seu eco se agiganta quando cá estou só eu. O meu lugar não é aqui; e muito menos é longe de vocês. Dos meus amores. Dos que me conduzem para o futuro e me afagam quando as recordações do passado são dolorosas.
O que me faz pensar numa coisa que dissemos hoje, a propósito da nossa cunhada. A diferença entre nós não está nos 14 anos de idade que nos separam. Está no que cada uma já viveu. E nisso, levo bem mais de 14 anos de avanço; levo uma diferença que está, toda ela, nos fantasmas que enchem esta casa.
Sem comentários:
Enviar um comentário