domingo, janeiro 27, 2008

Sobre o SNS (2)

Durante anos, foram várias as vezes em que tive de acompanhar às urgências ora a minha mãe, ora o meu pai, tanto no Centro Hospitalar de Coimbra como nos HUC. Em geral, iam lá com conhecimento do médico assistente deles; havia, portanto, um contacto, sabiam que iam encontrar uma cara amiga e conhecida que os acompanharia ou, pelo menos, os viria cumprimentar. Dado o estado de saúde de ambos, eu era autorizada a entrar com eles, para poder explicar o que se passava, pois eles não o podiam fazer. Por isso vi - e ficou gravado cá dentro, para sempre, tudo o que vi. Nos Covões, à época com urgências em péssimas instalações, tão deprimentes que fariam qualquer pessoa sentir-se pior. Nos HUC, espaços mais modernos, mas uma maior frieza humana. Macas pelos corredores fora. Velhinhos sem saberem onde estavam e sem ninguém que lhe desse uma palavra amiga. Auxiliares resmungões. Enfermeiros e médicos ocupados, sem tempo para darem atenção a quem, à espera, precisasse de ajuda. Horas passadas sem explicações. Horas de uma solidão agravada pelo medo da doença. Horas de dor que mandei para o fundo da minha memória, mas cuja recordação me ocorre agora, ao ver as notícias sobre o senhor que em Aveiro caiu da maca sem ninguém se aperceber, ou o outro que foi mandado nu para casa. Numa dessas minhas idas às urgências, uma velhinha completamente desorientada só não se atirou da maca abaixo porque a impedi de se levantar.
Faltam nos nossos hospitais, nas nossas urgências, calor humano e ternura.

sábado, janeiro 26, 2008

Sobre o SNS

Em tempo de contestação à política de saúde do governo, vou tentar deixar aqui o testemunho das minhas experiências no serviço nacional de saúde. São testemunhos de uma privilegiada, porque beneficiária de um subsistema de saúde que me permite fazer muitos exames comparticipados em serviços privados, e porque nunca recorri aos serviços dos médicos de família. E por aí posso começar - porque é que nunca fui à minha médica de família.
Pouco tempo depois de mudar de casa, há uns 15 anos, num mês de Agosto em que o meu médico (particular) habitual estava de férias, arranjei uma faringite. Era uma situação recorrente, e sabia que, pela forma como a coisa estava a avançar (com dores de garganta crescentes que já tinham chegado ao ponto de me impedir de engolir), teria de tomar um antibiótico. Como não quis automedicar-me, nem ir às urgências do hospital por não ser um caso muito grave, resolvi ir ao meu novo centro de saúde, inscrever-me nele e tentar arranjar uma consulta. Havia uma médica ainda com vagas que podia tornar-se a minha médica de família. Ela estava no centro, estava a acabar as consultas do dia, mas só me podia atender na semana seguinte. Note-se que eu só precisava de um médico que olhasse para a minha garganta e me receitasse o antibiótico necessário. Mas no meu centro não havia serviço de urgência, e a médica não tinha a obrigação de me atender, pelo que o não fez. Saí dali disposta a ir para o hospital; antes, porém, passei numa farmácia conhecida, olhando para a prateleira reconheci o nome do antibiótico que tinha já tomado para o mesmo mal uns meses antes, e a farmacêutica vendeu-mo, mesmo sem receita, depois de lhe ter contado o que se passara. A faringite passou. Eu não voltei a tentar marcar uma consulta com a minha médica de família e só fui ao centro de saúde por causa de vacinas.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Amor é...

... sentir-me em casa aconchegada nos braços de quem se sente em casa aconchegado nos meus.

(Respondendo ao desafio da Vague)

Para quebrar o silêncio

O Natal passou, o final do ano idem aspas, e o blog continua deixado ao abandono porque não há tempo para lhe dedicar. Muitos posts foram escritos mentalmente, mas não passaram da mente. Nas prendas de Natal não encontrei nenhum pacote cheio de tempo para blogar, e 2008 vai (já está a) ser um ano carregado de trabalho.