segunda-feira, outubro 29, 2012

Se eu pudesse...

Se eu pudesse trincar a terra toda 
E sentir-lhe um paladar, 
Seria mais feliz um momento... 
Mas eu nem sempre quero ser feliz. 
É preciso ser de vez em quando infeliz 
Para se poder ser natural... 

Nem tudo é dias de sol, 
E a chuva, quando falta muito, pede-se. 
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade 
Naturalmente, como quem não estranha 
Que haja montanhas e planícies 
E que haja rochedos e erva... 

O que é preciso é ser-se natural e calmo 
Na felicidade ou na infelicidade, 
Sentir como quem olha, 
Pensar como quem anda, 
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, 
E que o poente é belo e é bela a noite que fica... 
Assim é e assim seja...

Alberto Caeiro

Como eu gosto deste poema... Em tempos difíceis, serviu-me várias vezes de consolo. Deu-me paz. Mostrou-me como tudo, vida e morte, alegria e tristeza, fazem parte do mesmo todo. "E a chuva, quando falta muito, pede-se...". É isso. E a paz instala-se, depois de reler o poema.

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