Acho que se podia fazer um filme sobre eu, sozinha em casa. Detestando estar sozinha, detestando estar aqui, longe dos meus amores, daquele que é agora o meu lar. Detestando as razões que me obrigam a isso. Dá-me sempre para a asneira. Ou como chocolates que nem uma perdida, ou não como nada. Ou leio sem parar para não pensar e adormeço tardíssimo, mesmo tendo de me levantar cedo no dia seguinte. Ou trabalho que nem louca (ou faço de conta). Ou, simplesmente, me dá para a neura e vejo porcarias na tv, ou fico a ver todos os blogs, todos os sites - enfim, tudo menos ter vontade de lançar mãos às arrumações necessárias e a pôr em ordem este sítio onde já não me sinto em casa, sobretudo quando aqui estou só.
É estranho como a nossa relação com uma casa que é nossa há quase 20 anos pode mudar tanto. Do meu lar, doce lar, passou a ser uma espécie de armazém, de coisas e de memórias. Passou a ser ela o habitáculo de fantasmas vários, que não me apetece enfrentar a cada vez que cá venho. Aqui as saudades dos meus pais são bem mais vivas. Aqui o meu passado lembra mais. Aqui eu passei os mais difíceis tempos da minha vida - também os mais doces, mas essa parte não consegue sobrepor-se às outras.
E assim escrevo, como há muito não escrevo neste sítio. E apetecia-me escrever mais, muito mais - não que precise de novo de um saco de boxe para esmurrar, mas há coisas que esmurraria de bom grado. Só que não o consigo fazer. Em lugar disso, enrosco-me nos braços do meu amor, no meu porto de abrigo; desabafo com ele. Mas andam cá dentro coisas a querer disparar cá para fora; mais ainda quando não o tenho ao meu lado - e o telefone ou a internet são pobres substitutos da carícia, do calor humano, do sorriso, da mão que se aperta, do beijo. É tramado (quase tanto quanto maravilhoso) amar alguém. Precisa-se não só do outro, mas também do nós que formamos.
Tanta coisa já aqui escrita... e nada, ou quase nada do que me apetecia dizer. Fico-me pela vontade. Não é hora para falar no resto. Nem sequer na frustração de viver num país que amo e que odeio ao mesmo tempo, em ambos os casos por ser como é, mas não pelas mesmas razões, obviamente.
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