Durante anos, foram várias as vezes em que tive de acompanhar às urgências ora a minha mãe, ora o meu pai, tanto no Centro Hospitalar de Coimbra como nos HUC. Em geral, iam lá com conhecimento do médico assistente deles; havia, portanto, um contacto, sabiam que iam encontrar uma cara amiga e conhecida que os acompanharia ou, pelo menos, os viria cumprimentar. Dado o estado de saúde de ambos, eu era autorizada a entrar com eles, para poder explicar o que se passava, pois eles não o podiam fazer. Por isso vi - e ficou gravado cá dentro, para sempre, tudo o que vi. Nos Covões, à época com urgências em péssimas instalações, tão deprimentes que fariam qualquer pessoa sentir-se pior. Nos HUC, espaços mais modernos, mas uma maior frieza humana. Macas pelos corredores fora. Velhinhos sem saberem onde estavam e sem ninguém que lhe desse uma palavra amiga. Auxiliares resmungões. Enfermeiros e médicos ocupados, sem tempo para darem atenção a quem, à espera, precisasse de ajuda. Horas passadas sem explicações. Horas de uma solidão agravada pelo medo da doença. Horas de dor que mandei para o fundo da minha memória, mas cuja recordação me ocorre agora, ao ver as notícias sobre o senhor que em Aveiro caiu da maca sem ninguém se aperceber, ou o outro que foi mandado nu para casa. Numa dessas minhas idas às urgências, uma velhinha completamente desorientada só não se atirou da maca abaixo porque a impedi de se levantar.
Faltam nos nossos hospitais, nas nossas urgências, calor humano e ternura.
Faltam nos nossos hospitais, nas nossas urgências, calor humano e ternura.
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