Se eu pudesse trincar a terra toda E sentir-lhe um paladar, Seria mais feliz um momento... Mas eu nem sempre quero ser feliz. É preciso ser de vez em quando infeliz Para se poder ser natural... Nem tudo é dias de sol, E a chuva, quando falta muito, pede-se. Por isso tomo a infelicidade com a felicidade Naturalmente, como quem não estranha Que haja montanhas e planícies E que haja rochedos e erva... O que é preciso é ser-se natural e calmo Na felicidade ou na infelicidade, Sentir como quem olha, Pensar como quem anda, E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, E que o poente é belo e é bela a noite que fica... Assim é e assim seja... Alberto Caeiro Como eu gosto deste poema... Em tempos difíceis, serviu-me várias vezes de consolo. Deu-me paz. Mostrou-me como tudo, vida e morte, alegria e tristeza, fazem parte do mesmo todo. "E a chuva, quando falta muito, pede-se...". É isso. E a paz instala-se, depois de reler o poema.